Ser mãe - Parto
Meu filho nasceu em 2011 quando eu tinha trinta anos de idade e como dizem em larga escala hoje em dia, nasceu ali também uma mãe.
Gravidez absolutamente tranquila, exames normais e eu toda plena já tinha feito meu ensaio sensual. Sim, tenho certa vergonha do meu álbum de gestante. Acho ainda hoje que exagerei na roupa íntima.
Na véspera do nascimento dormimos no chão da sala do nosso primeiro apartamento recém comprado e reformado, saindo ainda o cheiro de tinta que deixava tudo bem lindo para a chegada do nosso Renan e pelos cálculos, no retorno do hospital já estaria devidamente sem cheiro.
Bem cedo o despertador tocou e estava com os pés inchados, algo que nunca tinha visto até então. Achei bonito isso, pareceu entendimento do corpo sobre o dia do parto, mesmo que fosse cesárea.
Pegamos minha mãe no caminho e já no hospital encontramos os padrinhos que foram nos desejar bençãos.
Estava muito tranquila, certamente no colo do Pai por tamanha improbabilidade de estar assim num dia tão esplêndido.
Consigo sentir a textura das bolsas de maternidade preenchidas com tanto carinho e também meus pés subindo uma rampa dentro do hospital a caminho da sala de cirurgia.
O pai poderia estar na cirurgia, mas somente no momento da retirada do bebê. E então ele chegou, nervoso. Tão nervoso que tive tempo de achar graça do seu comportamento. O tempo todo de costas ou meio de lado, olhando de rabo de olho para frente, onde os médicos me operavam, certamente como precaução para não ser mais um que desmaia no nascimento do filho.
O único mal estar que senti na gravidez e consequentemente no parto foi a impossibilidade de ficar deitada de barriga para cima. Isso fazia acontecer hipotensão, quando a pressão arterial despenca, náuseas surgem do nada, podendo levar a desmaios. Nada que o anestesista não tenha controlado muito bem.
Perguntei: "Já me cortou?" O anestesista riu e disse: "Se já cortou? Já está quase tirando o bebê!"
Nasceu!
Renan nasceu, chorou e fez xixi nos primeiros panos que tocaram seu corpinho, ainda nos braços da enfermeira enquanto o pediatra o avaliava. Foi levado a mim e a textura de sua bochecha passando na minha é algo inesquecível. Chorando então eu disse a ele: "Bem vindo Renan! Deus te abençõe!"
Só ficamos então eu e duas enfermeiras que conversavam como se limpassem uma calçada, mas na verdade estavam no meio das minhas pernas e só me dei conta disso porque vi uma das pernas levantadas ao ar por detrás do pano que cobria minha visão bem no rumo da barriga. A perna estava ali, suspensa, sem que eu ordenasse. Hilário!
Elas terminaram a faxina e fui então para uma sala de recuperação com o único objetivo de sentir os pés novamente e então ser levada ao quarto. Nesse momento eu estava tão feliz, tão grata! Como se tivesse acabado de correr tantos riscos, mas estava ilesa.
Ao mesmo tempo podia ouvir outras mães dando a luz e uma em particular em parto normal mal deu um gemido e o bebê já chorava. Feliz dela. Outra mãe também esperava sentir os pés novamente e puxou conversa contando que também estava feliz por tudo ter corrido bem.
Cadê o manual?
Acho graça ainda hoje ao lembrar da cena. Apenas na companhia do marido, na cama do quarto, tomando noção do próprio corpo tão transformado pelo ventre agora vazio e ao mesmo palpável, maleável, sem a rigidez que o bebê de nove meses fazia ter.
Os pontos com um grande curativo e a cabeça nas nuvens, extasiada com a grande gratidão por ter corrido tudo bem e por só imaginar uma nova vida que já começava. Renan estava naquele momento que acho super esquisito, quando é levado para exames e algum medicamento, além do banho.
Não sei se hoje ainda ocorre essa ruptura tão abrupta entre mãe e filho.
Então entra a enfermeira empurrando uma banheira transformada em bercinho com meu tesouro bem embrulhadinho dentro. Ela pergunta se está tudo bem, informa que o bebê estava ótimo, mostra a campainha para ser acionada caso eu precisasse de algo e sorrindo vai dando as costas, saindo do quarto.
Olhando para ela com olhos surpresos e suplicantes, pensei em dizer: "Não, espera aí! Aonde você vai? Vai me deixar aqui assim? E o manual de instruções?"
Nada. Fiquei no vácuo.
Vi a enfermeira malvada fechar a porta atrás de si e então olhei para Renan que estava instalado do meu lado esquerdo da cama.
Não sabia o que fazer. Pensei: quando come? Quando troca a fralda? E se chorar? E por aí vai.
Se não me engano minhas dúvidas foram interrompidas pelas cólicas que começaram com tudo. Meu Deus! Como doíam. E não tinha Buscopan prescrito, é mole? Urrei silenciosamente por horas até que num passe de mágica surgiu um novo dia e a médica apareceu para, de supetão, arrancar meu enorme curativo.
Claro, se me avisasse que tiraria, eu faria uma cena. Foi melhor assim, nem doeu tanto. O susto foi maior.
Ensinaram só algumas coisinhas: como amamentar e segurá-lo em segurança. A hospedagem no hospital durou 48h e lá fomos nós para casa.
Já na cadeira de rodas, percebi que qualquer mínimo desnível no chão causava desconforto, mas meu Deus! O percurso de quase quinze quilômetros de carro até em casa foi um pesadelo! Parecia que ir a pé seria melhor. A sensação era que em cada trepidação os pontos se abriam um pouquinho, mas nada disso. Sobrevivi.
Em casa finalmente, eu, meu marido, nosso filho Renan e nosso pet (que Deus o tenha) Eddie.
Um intenso curso de ser mãe começava!
E o cheiro da tinta foi embora mesmo.
Ludmila Barros - 🔗@ludmilapb
Comentários
No meu parto, eu pedia para contarem os dedinhos! Rs
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