Sessão de Terapia 1
No dia sete de maio fui eu para o consultório: arrumei um pouquinho, peguei a bolsa, fones de ouvido, conferi o carregamento da bateria do celular, peguei a chave do carro e encontrei o lugar perfeito: o estacionamento do MCDonald's.
Divã-carro
Sim, decidi que as sessões virtuais de terapia seriam feitas dentro do carro, num lugar seguro e isento de qualquer tipo de interrupção. De quebra, me daria de presente um sorvete todo sábado.
Essas interrupções, para alguém que é tão ligada em tudo, poderiam ser mínimos barulhos em casa, alguma entrada por acidente do marido no cômodo onde eu estivesse em sessão ou algo assim, se é que me entende.
Claro que a sensação de total privacidade talvez seja o principal motivo. Sentir que está falando coisas nunca ditas e que não serão indevidamente ouvidas. Chorar também no mesmo sigilo. Fiquei satisfeita com meu escritório.
Passa pela minha cabeça que talvez com o andar da carruagem, as abóboras se ajeitem e eu chegue a fazer as sessões em casa mesmo. Quem sabe?
Por hora vamos assim.
Culpa
A moral da história desse primeiro encontro foi: culpa por ser como sou.
Num primeiro segundo em que escutei isso, tive o impulso de questionar. No segundo seguinte houve 360 graus e tudo fez sentido. Realmente, ao longo da vida, a autocrítica com exigência excessiva me levaram a perceber minhas características e tudo que poderia ser diferente.
Até aqui isso seria muito bom não é verdade? Porém existem qualidades que só são qualidades, e pronto. Querer sempre aprimorar pode adoecer. A essência também é tão forte que mudá-la exige demais e deve ter bons motivos pra isso.
Foi bom ouvir: culpa. E também ouvi: ranço de você mesma. Eita que passei a próxima semana com isso na mente e fez bem viu? Foi uma semana mais leve, tanto por esse alerta quanto claro por tanto desabafo.
Boa estreia
Uma hora de conversa, quase um monólogo e terminamos. Estava exausta, como fico em situações até menos intensas. Isso também quero amenizar com o tempo.
Parecia que um trator tinha me atropelado e dor de cabeça latejante pelo choro contido. Contido para que pudesse aproveitar o tempo e dizer tudo que queria.
Em casa deixei mais lágrimas rolarem num banho reconfortante. Ao mesmo tempo... culpa, ranço, culpa, ranço... E uma leveza gostosa foi se instalando...
Ludmila Barros 🔗@ludmilapb
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