Sessão de terapia 6
Adiei essa sessão por umas duas semanas se não me engano. Ando cansada demais para lembrar.
Aliás, cansada foi a primeira palavra que saiu da minha boca. Disso eu lembro.
Depois, ao longo da conversa foi traduzida melhor no idioma correto para estressada.
E como em todo encontro nosso, faróis iluminaram muita coisa.
Entender, admitir e me lembrar constantemente que estou estressada poderá aliviar vários momentos tensos ou angustiantes, além de indicar caminhos mais leves para as condutas da mente.
Estresse ou cansaço
Meu filho Renan está diferente e instável há dez meses. Um padrão que não existia nele se instalou nesse tempo seguido de choros, incômodos e possíveis dores ou crises epiléticas que estamos investigando.
É tempo demais para manter a química do corpo em ordem. Cortisol certamente deve estar em larga escala por aqui. Tóxico.
É nítida a exaustão mental e não física. Um oco na cabeça, lentidão, o dia longo demais.
A mãe de uma criança com deficiência rara precisa ser a bússola para os médicos. Uma responsabilidade que não combina com o cargo maternal. Não combina, mas precisamos conseguir. É vital para os pequenos. Vital mesmo.
A doença rara traz consigo o desconhecido, a falta de pesquisas e a falta de médicos minimamente capacitados naquilo que é preciso. Quando você vai a um médico normalmente quer perguntar pra ele "O que você acha"? E no meu lugar acontece o contrário. Ele me pergunta o que acho.
Então quando eu chego a buscar especialistas, já tenho um mapa desenhado com base em meses de avaliações do Renan e eliminações de possibilidades que já sei serem necessárias para agilizar a conduta médica.
Você consegue imaginar como isso é cansativo? Ou melhor, estressante? Além de lidar com um problema sem solução o tempo todo, com seu filho incomodado, ter que pensar, pensar e pensar sobre causas e soluções. Por fim ainda receber listas de exames e consultas para providenciar.
Esse estresse vai tomando conta de tudo, como uma sombra espessa de suspenses. Intolerância no matrimônio, incapacidade de emagrecer, grande desejo de compensações que fazem mal, insatisfação em não ter tempo para mim vão crescendo como se tivessem vida própria, mas muitas e muitas vezes o estresse é que, sorrateiro, vai tirando a capacidade de lidar com as questões da vida.
Certamente usarei e já estou usando dessa compreensão para olhar os gatilhos de outra forma.
Claro que não elimina os fatos. Existem motivos reais para as queixas e insatisfações, mas então o que pode ser feito concretamente? Um passo será procurar uma ajudante nos cuidados do Renan, pelo menos alguns dias na semana. Meu dever de casa.
Lá na parte de reações principalmente no matrimônio, eu mesma me critiquei como infantil em algumas atitudes e escutei que é super natural, pois reproduzimos sim as condutas usadas conosco na infância. Se eu quero responder com uma penalização, é porque provavelmente fui penalizada lá atrás para aprender algo. Outro farol.
Bons momentos não duram
Outra situação que sempre olhei sem entender bem é a ineficiência de me proporcionar bons momentos. Dar-me o presente de passar uma tarde no shopping por exemplo sempre me pareceu que tinha que ter validade de alegria e leveza por digamos uns três dias.
E não. Ao chegar em casa e me deparar com os mesmos cenários me leva automaticamente para a mente cansada e insatisfeita.
Mas... outro farol. É isso mesmo.
Moral da vez: os bons momentos são bons momentos. O importante é saber que consigo aproveitá-los (caso não, seria outro problema). Mas eles não são levados para casa em potinhos. A alegria ou qualquer coisa boa não é uma bateria a ser recarregada com validade de duração.
O lance é tentar me proporcionar o maior número possível de boas experiências que certamente quebram ciclos mentais e revigoram.
Por fim falamos novamente sobre culpa e gratidão. Ser grata é importantíssimo, mas a cobrança constante de ter que sempre ser grata porque tem alguém sofrendo ou com menos sorte, pode se tornar culpa.
Ser feliz, aproveitar as bênçãos que recebo com intensidade não me torna ingrata por não lembrar o tempo todo que alguém está sofrendo perto ou no mundo. Isso é libertador.
Ludmila Barros - 🔗@ludmilapb
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