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Um dia, dois encontros inesperados

Um dia, dois encontros inesperados

mãe e filho com deficiência e papai noel
Nessa semana eu estive com uma mãe que já perdeu um filho com deficiência há algum tempo. Embora não tenhamos falado sobre o assunto, ela me fez lembrar desse dia da foto.

Vou te contar uma intimidade: eventualmente, quando termino a troca de fralda do Renan e ele está sereno e tranquilo e sorri deitado em sua cama, sou tomada por uma onda de afeto e me debruço sobre seu corpinho magro, abraçando e deixando meu ouvido escutar seu coração.

Nesse instante eu agradeço a Deus por sua vida e inevitavelmente penso se um dia aquele peito não mais terá um coração batendo. E me vejo na mesma posição, numa UTI, me despedindo.

Mórbido né? Mas fazer o quê? É algo que faz parte das possibilidades das nossas vidas e entendo que lembrar disso de vez em quando seja até saudável.

Pois bem, estive com aquela mãe que perdeu o filho, em seguida tive um momento desse com Renan e então me lembrei do dia da foto. Pegou?

O primeiro encontro inesperado

Dezembro de 2018, mês natalino. Levei meu pequeno rapazinho para cortar cabelo no lugar de costume, uma galeria daquelas com ideia de shopping. Longe de casa, mas o maravilhoso trabalho e simpatia do tio Maurício valia a caminhada.

Estacionei, tirei a cadeira de rodas do carro, sentei Renan e lá fomos nós pela longa distância entre o estacionamento e o salão que ficava no segundo piso.

Um movimento diferente estava acontecendo e para minha surpresa o Papai Noel estava lá recebendo a todos para fotos (primeiro encontro inesperado). Renan ainda não tinha conhecido pessoalmente nem tinha um registro com o bom velhinho e fiquei animada. 

Já lindo e maravilhoso com o cabelo cortado, na saída paramos para a bela foto. Nesse instante percebi uma pessoa nos olhando de forma particular.

Tinha uma feira de artesanato no mesmo ambiente e numa das barracas essa mulher estava olhando com olhos fraternos.

O segundo encontro inesperado

Assim que nos afastamos do cenário de Natal ela se aproximou gentilmente pedindo permissão para interagir com Renan (segundo encontro inesperado). Consenti, é claro. E aqueles olhos já não me confundiam... eu tinha certeza que ela tinha alguma experiência com deficiência.

Como ele se chama? Renan. Oi Renan! Você é muito lindo! 

E os olhos fraternos ficaram brilhantes por lágrimas que ela tentava segurar.

Desculpe, eu tive um filho assim. Ele faleceu há dois anos e ainda dói muito. Sempre que vejo alguma criança numa cadeira de rodas, quero me aproximar e isso mata um pouco a saudade. Disse ela.

O nó na garganta que sinto agora, foi tão maior naquele momento! Minha cabeça girou 360 graus, o coração disparou e murchou como flor com sede. Só consegui dizer: sinto muito, de verdade.

Ela finalizou dizendo que não iria tomar mais nosso tempo, me olhou na alma e me exigiu: Aproveita ele, aproveita tudo que puder.

Nós nos abraçamos como a dor e o amor se abraçam para amenizar. Ela voltou para sua barraca e nós seguimos para o carro.

Lembro do quanto foi impactante esse momento e como permaneceu na pele por alguns dias.

A cena caiu no esquecimento, mas tatuou em mim o lembrete da brevidade.

Ludmila Barros - 🔗@ludmilapb

Comentários

Anônimo disse…
Lindo! Emocionante!
André disse…
Profundo, acho quem já viveu uma situação parecida só de olhar já consegue se conectar com tanto afeto e amor.
Ludmila Barros disse…
Verdade Dedé! Fica no ar! ;)
Anônimo disse…
Como é lindo e tocante.
A riqueza de detalhes nos permite ter consciência do cuidado de Deus é lindo quando conseguimos ouvir a voz do coração e sentir a fala de Deus se manifestando através de ‘’encontros inesperados’’
Obrigado por compartilhar 🥰❤️🙏
Ludmila Barros disse…
Que lindo! Muito obrigada! Pena que não assinou o nome. Obrigada! ;)

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