Quantos abusos você já sofreu?
Essas duas tramas permaneceram por dias em minha mente pelo mesmo motivo: abordam o abuso das mulheres em suas diversas formas.
Blonde
Blonde retrata a conturbada vida de Marilyn Monroe. Não que seja biografia, mas tenta imaginar os bastidores. Vi também um documentário e pude constatar a tristeza: mais uma vida feminina cheia de abusos e falta de apoio.
Embora muitas críticas digam que seja fantasioso demais, se assistido com sensibilidade percebe-se a essência. Pai desconhecido por toda a vida, mãe esquizofrênica que tentou matar a própria filha afogada na banheira aos sete anos. Deixada em orfanato, passou por diversos lares temporários.
Esperou pelo pai até a morte. Buscava proteção e afeto em figuras masculinas. Sem referências do cuidar feminino, era perdida e insegura como esposa ou companheira.
Seus relacionamentos amorosos, digamos que naturalmente, foram difíceis. Agressões, ciúmes e por fim um caso com os Kennedy (presidente dos EUA e seu irmão) retratado de forma enojável.
Uma mente conturbada dificilmente consegue estabelecer harmonia em um lar. Ela era uma estrela, a mulher mais famosa do mundo, mas com tantas e tantas carências enraizadas e mal resolvidas, não conseguia ser dona de si e ditar suas regras.
Chamava os homens da sua vida de paizinho. Angustiante.
Sofreu abortos espontâneos e forçados pela máquina de Hollywood. À força mesmo.
Muito talentosa, uma artista nata, perfeccionista, queria sempre se aprimorar como atriz.
Abusada de todas as formas no mundo corporativo. Relações sexuais sem consentimento, daquelas em que o silêncio é um sim, enquanto já está sem calcinha. Descrença na voz, na presença, por ser mulher. Mesmo sendo impecável nas atuações para tentar papéis, o que abria espaço eram seus seios e bunda empinados naturalmente.
As frustrações foram ganhando tamanho desproporcional ao que uma mente suporta: a infância perdida, não conhecer o pai, ser órfã de pais vivos, ser talentosa e ignorada, ser linda e estuprada, a posse da personagem Marilyn Monroe sobre a mulher Norma Jeane, seu nome verdadeiro.
Sua instabilidade emocional começou a afetar o trabalho e a própria indústria começou a drogá-la com medicamentos para permanecer estável. Tornou-se dependente e até em sua morte há ainda controvérsia: assassinato, suicídio ou overdose não intencional?
Você mulher, consegue de alguma forma se ver nisso? Eu consigo. Não é preciso viver as mesmas situações, basta ser mulher.
Uma Garota de Muita Sorte
O outro filme, Uma Garota de Muita Sorte, mostra a história de uma mulher escritora, prestes a se casar. Baseado em fatos reais da própria autora, aos poucos seu passado é revelado e justifica sua infelicidade geral.
Foi estuprada aos quinze anos por três colegas de escola durante uma festa. Aquele típico cenário de bebidas em uma época que duvidaria do seu relato (que poderia facilmente ser hoje também), fizeram com que não relatasse o ocorrido às autoridades.
Já adulta teve oportunidade de expressar suas dores. Acertou contas com o estuprador que restou, foi sincera consigo mesma sobre o futuro marido e resolveu trabalhar da forma que queria e não para agradar aos outros.
Também consegue se ver?
Pois é. Eu também.
Vida real
Mãos bobas ou frases maliciosas de algum amigo da familia ainda na infância? Algum parente ou até as vias de fato? Tenho certeza que alguém que me lê já sofreu isso.
O mesmo constrangimento e abuso na vida adulta também? Aquele toque nos ombros pelo chefe no trabalho, com mãos mais pesadas do que deveriam? Coações para nitidamente conseguir alguma posição melhor na empresa? Telefonemas em momentos fora de propósito? Companheiro tosco, insensível?
Quantas e quantas vezes fingiu de morta pra sobreviver?
Não importa a idade em que aconteça um abuso. Até a criança que ainda não formou personalidade, sabe que está sendo molestada.
A reação de esconder é a mesma em qualquer tempo.
Se você tem questões assim, sutis ou não dentro de você, converse com alguém! Seja abuso sexual ou moral.
Um psicólogo ou terapeuta, na posição de neutro, sem julgamentos, pode te ajudar a se abrir com mais facilidade.
Fale sobre isso!
Não admita novos abusos em silêncio!
Ludmila Barros - 🔗@ludmilapb
Comentários
Postar um comentário
Comente! Deixe seu nome por favor!