Oi, morte
Conhecer a morte fez isso. Não precisa morrer pra conhecê-la.
Escolhi um café como companhia. Alguém passa falando alto e me irrito. Não se pode sofrer como quer?
No fundo sei que nem chego perto da dor máxima. Deus não deixa.
De vez em quando Ele abre uma janela e me chama pra debruçar nela. Aí sim, nesses momentos sinto uma partícula da grande tristeza e percebo Seu cuidado, de novo.
Porque a lasca que a morte tira (da alma, do coração, do ser) é algo que incomoda o tempo todo, até mesmo quando esqueço dela.
Plantou um vazio estranho e lágrimas sempre prontas a descerem pelas bochechas. Inclusive agora elas estão como orvalho, ainda nos cílios.
O kimono do luto me vestiu quando voltei pra casa e à minha rotina. Tudo ficou pesado. Um pesar que passou a fazer parte das minhas células.
Até em momentos leves ou quase felizes, sinto um oco, um eco.
Lembro dele sem lembrar.
Esqueço dele sem esquecer.
Eu era curiosa sobre a morte de alguém realmente amado. Sabia que até acontecer comigo, não seria compadecida à altura com os que perdiam perto de mim.
Pra arrancar essa lasca, tem que ser por alguém que estarei ao lado antes, durante e depois. Alguém que ajudarei a fechar os olhos.
Porque aqueles que se forem de longe, não será a morte que conheci pelo meu pai. Serão apenas parte de orações e breve tristeza.
A cabeça dói com frequência. Tem pressão demais de água represada.
Quando debruço na janela que Deus abre pra mim, as comportas se abrem e o alívio vem.
Mas quando as fecho, forçado, percebo que ainda vai demorar pro volume baixar.
Esquecer é triste.
Lembrar é triste.
Mas obrigada morte, você foi gentil. Penso que você passar enquanto dormimos, é muita gentileza.
Ludmila Barros - 🔗@ludmilapb
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