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Pai, avô e neto

Pai, avô e neto

Quando meu pai faleceu, eu, meu filho Renan e meu marido Emerson já estávamos há dias na cidade dele. Já não estava bem.

Naquele turbilhão todo que a morte faz, mesmo que calma, teve a perspectiva do Renan. Pelo menos tenho a minha versão disso.

Foi interessante porque vínhamos de um ano difícil sobre o comportamento do nosso pequeno. Muito choro e indisposição sem explicações.

Eis que ficamos 45 dias na casa dos meus pais e em todo o tempo, como um milagre, e acredito mesmo que seja, Renan ficou quieto, calmo como não contemplávamos há muito tempo.

Eu me lembrava que tinha que conversar com ele sobre seu avô, mas deixava para depois, enquanto estava ocupada com uma coisa aqui e outra ali.

E sabia que ele tudo ouvia e via. Participou de tudo. Eu estava devendo uma conversa.

Até que após o falecimento, ele passou a demonstrar reações emocionais enquanto escutava conversas sobre o avô.

Fazia beicinho e até chorou com lágrima silenciosa.

Tem que explicar


Eu então me desocupei mais cedo, tomei banho e o peguei no colo como fazemos para bons momentos.

Falei que precisava explicar uma coisa sobre o vovô... E ele logo aquiesceu, atento, sedento.

Contei então que estávamos lá na casa do vovô porque ele tinha ficado doente como todos ficamos. Que o vovô então foi para o hospital como todos vamos e tomou remédio para melhorar. 

Só que o vovô ficou muito, muito cansado e pra isso não tinha remédio. Ele precisou ir descansar no céu, com Deus.

E Renan sorriu. Pra quem já o conhece, sabe que o sorriso é seu sim, sua aceitação.

Senti pelos seus olhos a gratidão pela explicação. E ele parou de demonstrar tristeza a partir dali.

Era um avô com amor de avô. Não sei se de todos é assim. Era amor diferente do que vivemos como pais ou que vemos das pessoas próximas. Tinham uma coisa de olhar.

Meu pai, alma de criança, pura, sincera demais como a pureza é.

Ele nunca ia a lugar algum, não gostava de sair de casa, mas pegava estrada ou ferrovia para ver Renan em outra cidade.

Uma inocência que ia até o ser adulto. Nunca quis saber da deficiência do neto, nunca quis. Nunca foi mesmo de se encher com coisas difíceis. Coisa de quem precisa proteger um coração frágil parece.

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Ele olhava para o neto e só via possibilidades. Achava que ainda ia andar, falar e tudo mais. Por isso deu uma piscina pra ele e outras coisas.

Mas aquele achar sem ansiedade, sem sofrimento. Coisa de certeza. 

Coisa de amor que protege um ser. Coisa de Deus que protege um filho.

Ludmila Barros - 🔗 @ludmilapb

Comentários

Márcia Magalhães disse…
Oh amiga ..que emoção senti nesse texto! Deixei rolar algumas lágrimas por aqui também!!! Obrigada por compartilhar! Te amo!
Ludmila Barros disse…
Ah minha amiga... Obrigada! Sigamos juntinhas. Te amo.

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