Conto: O beco
Ele acordou cedo, ainda cinco horas da manhã, mesmo sendo domingo.
Mais um dia com as mesmas coisas e após ler rapidamente as notícias pelo celular, preparou seu primeiro café da manhã seguido da alimentação e medicamentos do filho que ainda dormia tranquilamente.
Ligou a bomba de nutrição que o alimentaria pelas próximas duas horas e medicou. Deixou-o ainda em sono gostoso. Sabendo que a esposa dormia ainda, porém atenta, Júlio calçou seus tênis, vestiu roupas leves e seguiu para seus exercícios na academia que não era tão perto, mas dessa vez decidiu caminhar até lá.
Com os pés no chão é possível perceber melhor. Tudo fica nítido e presente. Coisas que pareciam não existir, tomam forma e chamam atenção pelo caminho. Lojas, pessoas, detalhes do calçamento e o céu.
Quase no meio do percurso avistou num beco longo e sem saída do outro lado da rua, um casal jovem que se beijava apaixonadamente. Pareciam corpos e rostos de quem passara uma boa noite de festa e intimidades de pessoas que já se conheciam antes.
Havia carinho apesar do frenesi de tesão. O rapaz a pegava com as duas mãos no pescoço, envolvendo as orelhas e beijando sua boca com força. Os corpos se comprimiam querendo talvez algum lugar de maiores possibilidades.
Júlio não precisou parar para observar. Caminhando devagar pôde viajar na cena que o remetera aos tempos de namoro com sua amada. Seguiu seu caminho pensando como que, às vezes, a falta de um lugar para maiores possibilidades é exatamente aquilo que faz sensações únicas fluirem nas veias e nos dias de alguém.
Ludmila Barros - @ludmilapb
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