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Conto: Barato do meu cachorro

 

Cachorro com ursinho e falso cigarro

Conto: Barato do meu cachorro

Eu nunca fumei.

Nada, de nenhuma planta ou veneno.

Lembro do ditado que diz que então morri, porque também não bebo nem cheiro.

Por honestidade, que conste: bebo vinho eventualmente.

Então, pelo ditado, ainda presto pra alguma coisa.

Mas a história é sobre uma amiga que bebe e fuma (planta).

Essa bela adormecida (pra não dizer outra coisa), inventou de pedir demissão e morar na Austrália.

Despedida

Eis que para ir embora (morava sozinha) teve que desfazer de tudo, até só restar o que coubesse em duas malas.

Ao final de todo desapego, em sua últtima noite no Brasil, ela dorme em minha casa.

Naquele clima de despedida, uma terceira amiga se junta para ajudar na organização da bagagem e darmos adeus num jantar que fiz com carinho (lasanha à bolonhesa).

A descoberta

Eu na cozinha, passava de vez em quando pelo quarto onde estavam, quando em dado momento avistei um cigarro de planta num nicho baixo da parede.

A amiga, futura australiana, caiu na risada e disse que trouxe aquilo porque a esperança dela era me fazer experimentar e despedirmos em alto estilo Bob Marley.

Como boa mãe, disse que não rolaria porque com sorte eu ficaria doidona ou com muito sono e certamente com azar meu filho acordaria de madrugada.

Mas alertei para tirar aquilo de onde estava porque meu cachorro poderia pegar.

Eram duas amigas. Duas daquelas que não costumam fazer os combinados ou que o senso de responsabilidade e urgência não gritam. Sabe como é?

Pois bem...

Jantamos, conversamos, veio a sobremesa, recolhemos a mesa e quando dou por mim, meu cachorro estava em cima do sofá (coisa que nunca fazia).

Aviso ignorado

Cachorro maltês

Chamou minha atenção, fui aproximando para entender o que havia. Vejo farelo espalhado pelo assento e aproximo mais.

Meu cachorro estava comendo erva como se fosse um bom petisco.

Ele fez o que profetizei e ninguém me ouviu: pegou o canudinho de planta.

Jesus! Não demorou o bicho estava lesado, na maior onda. Tinham ossinhos voando sobre a cabeça dele, certamente.

E sério, o aperto foi grande. Ele convaleceu. Não se mexia, todo mole, dopado. Era assustador.

Era da boa, certamente.

Com toda vontade de acabar uma amizade e de fazer mal a alguém, tive que partir pra solução. 

Pensei então: procuro clínica 24h... e imaginei essa santa que vos escreve contando a história: "minha amiga... foi dormir na minha casa... Austrália... blá, blá, blá, cachorro, barato." Que vergonha! Ninguém acreditaria.

Mais vontade de romper amizade.

Depois lembrei do veterinário que o atendia em casa e embora passasse o mesmo constrangimento, seria com alguém mais próximo e por mensagens de WhatsApp.

Então enviei santos áudios explicando e a resposta foi risada seguida de: "e você com essa cara de santinha!"

A reputação da pessoa e do cachorro em jogo. E a vida dele também. 

O ódio tomava conta.

Deu certo

Por fim ele me tranquilizou, disse que acontecia com frequência, inclusive de propósito (oi?) e que ficaria tudo bem. Era só dar água com seringa e esperar a larica.

E assim aconteceu.

Algumas horas e ele voltou ao normal.

Ainda bem.

Se não, alguém não teria ido para a Austrália.

Amiga, te amo!

Ludmila Barros 🔗 @ludmilapb

Comentários

Anônimo disse…
Amei, "Mais vontade de romper a amizade" , kkk... Cuidado com suas profecias Ludmila, rs.
Anônimo disse…
Ao lado das amigas loucas é que acontecem as situações mais alegres.
Histórias para contar haha
Ludmila Barros disse…
Hahaha as profecias têm poder!
Ludmila Barros disse…
Que graça teria se não fossem loucas? Hehe... Amooo!

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