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Ser servido

Ser servido Tirei essa foto numa quinta qualquer quando acordei mais cedo que o normal enquanto preparava o café da manhã . A vontade de registrar veio de uma sensação que me ocorre bem eventualmente nesses momentos em que providencio meu alimento . Sensação de ser alguém que espera lá dentro de casa, na sala vendo TV ou talvez ainda na cama com preguiça, mas seja onde for, escutando aqueles barulhinhos que vêm da cozinha como música. Louças batendo suavemente, chamas do fogão sendo acesas, ovos sendo quebrados, talheres separados e por fim os aromas vão preenchendo a casa e o coração de quem espera ficar pronto. Sinto mistura de saudade e desejo. Saudade de ser servida desse carinho e desejo de buscar isso de alguma forma. Tirando minha mãe, nunca tive alguém para me preparar as refeições e acredito que a maioria se identifique com isso.  Não importa como Acho que não faz muita diferença o tipo de comida , a qualidade com que era feita ou se era um momento perfeito, mas o fato

Eu não gosto, mas eu amo

Eu não gosto, mas eu amo Nessa semana ouvi uma mensagem do padre Emerson Anizi que reacendeu questões importantes pra mim. Reconhecer Jesus em qualquer situação, boa ou difícil. E dentro disso ele mencionou que gostar é diferente de amar . Não é porque não gosto, que não amo. Posso não gostar, mas amo .  É o tipo de reflexão que dá aquela mexida, faz aprumar os pensamentos, assim como uma bela sessão de terapia. E vale para tudo! Claro, Jesus e seus ensinamentos não podem ser menos do que onipotentes. Trabalho, familia, amigos, situações. Podemos sempre pensar: posso não gostar, mas amo. Lembre-se de onde veio. Eu disse no início que reacendeu porque realmente é uma linha de pensamento que tenho comigo, muito pela minha mãe que tem isso nato, principalmente sobre trabalho. Ela é um belo exemplo e me ensinou a amar trabalhar. Amar poder me sustentar. Amar ter saúde para poder trabalhar. Amar qualquer fonte de renda como benção, absolutamente qualquer que seja. Amar valorizar o sus

Sessão de terapia 6

Sessão de terapia 6 Ontem foi dia de rever minha confidente maravilhosa, imparcial e atenta. Minha psicóloga . Adiei essa sessão por umas duas semanas se não me engano. Ando cansada demais para lembrar. Aliás, cansada foi a primeira palavra que saiu da minha boca. Disso eu lembro. Depois, ao longo da conversa foi traduzida melhor no idioma correto para estressada . E como em todo encontro nosso, faróis iluminaram muita coisa. Entender, admitir e me lembrar constantemente que estou estressada poderá aliviar vários momentos tensos ou angustiantes, além de indicar caminhos mais leves para as condutas da mente. Estresse ou cansaço Meu filho Renan está diferente e instável há dez meses. Um padrão que não existia nele se instalou nesse tempo seguido de choros, incômodos e possíveis dores ou crises epiléticas que estamos investigando. É tempo demais para manter a química do corpo em ordem. Cortisol certamente deve estar em larga escala por aqui. Tóxico. É nítida a exaustão mental e não f

Imprevistos frequentes, rotinas doentes

Imprevistos frequentes, rotinas doentes Imprevisto que é previsto , deixa de ser. Imprevisto que acontece todo dia, deixa de ser. Quando tudo pode acontecer a qualquer momento, deixa de ser imprevisto . Quando se espera, deixa de ser. Quando você vigia o imprevisto acontecer, deixa de ser. E minha vida de mãe de uma criança com deficiência é assim. É contar com o imprevisto previsto, todos os dias. Não me lembro de uma semana completa de dias bons . Ou noites boas. Um ciclo vicioso vai se formando na forma de pensar. Mente reativa na posição on em tempo integral. Rotina básica na posição off. Ir cansando de tentar estabelecer o básico. Ir entregando os pontos e ficar por conta do imprevisto previsto. A expectativa será frustrada, certamente. Pessimismo? Não, não mesmo.  Entender que 2+2 são 4? Acho que é por aí. A terapia tem me ensinado a buscar estado de neutralidade. Dar alguns bons passos para trás e zerar programações mentais. Porque o óbvio é o óbvio. Não é fácil, pode até s

Mãe de UTI

Mãe de UTI Há dois dias eu estava mais uma vez no pronto-socorro do hospital com meu filho Renan e é sempre inevitável pensar nas mães que estão lá no andar da UTI com seus amores enquanto estou entre aquelas paredes. Chamo-as carinhosamente de mães de UTI . Estive lá pelo menos sete vezes nos últimos dez anos e em cada uma delas pude viver todo tipo de emoção e conhecer algumas histórias que jamais esquecerei. Tem mãe de UTI que mora lá. Literalmente. Tem mãe de UTI que já sabe que seu filho não voltará para casa. Tem mãe de UTI que vai para casa sabendo que voltará logo. Tem mãe de UTI que sabe que vai ficar tudo bem. Tem mãe de UTI que nem viu o filho que acabou de nascer . Tem mãe de UTI que nunca esteve lá antes. Tem mãe de UTI que nunca saiu de lá. Tem mãe de UTI que chora . Chora muito. Tem mãe de UTI que segura o choro porque tem vizinhos demais. Tem mãe de UTI que sorri aliviada. Tem mãe de UTI que tem uma UTI em casa. Tem mãe de UTI que já não consegue rezar. Tem mãe de

Sofrimento é necessário, permanecer nele é perigoso

Sofrimento é necessário, permanecer nele é perigoso São tantos os motivos para sofrer que acontecem pela vida . Perda de alguém, de emprego, de saúde, de animais... Viver o luto (há quem não concorde com a aplicação desse termo) de cada momento desse é vital , faz parte do humano e da construção de aprendizados . A questão é: como cada um lida com suas perdas? Cada um é cada um. Uma bagagem. Uma gestação, uma carga genética, uma infância, coisas que viu e ouviu durante o crescimento, a maneira de absorver padrões do mundo, espiritualidade e tanto mais que trazemos na mala da vida. Seja seu maior crítico! Quanta facilidade temos em sermos autocríticos? Mas de verdade. Olhar para as incapacidades e se inquietar para melhorar. Será que não existe grande facilidade em ver e fingir que está tudo em ordem? Bem mais cômodo, né? Mas a vida passa rápido! E essa inércia só te deixa parado esperando novos momentos difíceis a enfrentar com aquele mesmo jeitinho lamuriante de ser. Aquele jeit

Ser mãe - Minha dedicação exclusiva

Ser mãe - Minha dedicação exclusiva Conversamos um pouco sobre dedicação exclusiva na maternidade, no post "Ser mãe - Dedicação exclusiva" . Hoje quero contar sobre a minha escolha. Por envolver filho com deficiência pode até parecer que não se compara de forma alguma a qualquer maternidade , mas você verá que os detalhes podem ser os mesmos. Para saber detalhes sobre a trajetória até o diagnóstico , você pode ler o post " Ser mãe - Filho com deficiência - Diagnóstico " Vivi dois momentos bem diferentes sobre essa tomada de decisão. Uma enquanto estava tudo bem e outra no oposto. Lá atrás, há quase onze anos, meu Renan nascia e como já contei, fruto de gravidez maravilhosamente normal e parto por cesariana completamente dentro do esperado. Ele foi bem avaliado pelo pediatra e fomos para casa felizes. Eu já era casada há dez anos, estávamos num bom momento do relacionamento, tínhamos acabado de comprar e reformar um lindo apartamento. Nosso falecido cachorro Eddie

Sessão de terapia 5

Sessão de terapia 5 Após duas semanas, tivemos nossa quinta sessão de terapia e matei a saudade que estava de desembrulhar minhas emoções e sentimentos . Café espresso bem tomado e pain au chocolat (croissant com chocolate) bem comido, pronto, começamos a conversa no meu divã car . Pratiquei a tarefa de atenção plena a cada dia que passou, por cinco minutos, focando em cada detalhe de momentos variados: banho no filho, arrumando a casa, lavando louça. Incrível perceber o quanto a mente está agitada.  Esse exercício realça o quanto é possível evoluir , ter mente mais calma, aumentar equilíbrio emocional e valorizar mínimas coisas. Conquistas de coisas que talvez já foram minhas com mais autoridade e que ao longo do tempo achei que ainda as tinha, mas era ilusão. A mente anda agitada demais, orações quase nunca são concluídas. O emocional antes leve e paciente, hoje cheio de razões e conclusões exigentes de mim e do outro. A gratidão antes tão celular, hoje superficial. A atenção p

Ser mãe - Dedicação exclusiva - Geral

Ser mãe - Dedicação exclusiva - Geral Um dilema que antes não existia. Antes, há muito tempo mesmo. As mulheres possuem cérebro com anatomia e funcionamento diferentes dos homens , segundo a ciência e conforme mencionado no livro "Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?" de Allan e Barbara Pease. A natureza humana é muito clara desde as cavernas, mas nossa inteligência só foi capaz de evoluir nas conquistas sem perceber o preço delas. Uma moeda que se tornou cara demais. Querer que homens sejam como mulheres e mulheres sejam como homens vem trazendo efeitos na sociedade como uma cobra sorrateira. Homens e mulheres iguais: essa foi e é a bandeira que por fim acho que vive a meio mastro representando a realidade das fêmeas. Veja bem, não digo que evolução não deva existir. Só tenho avaliado profunda e pessoalmente minhas próprias queixas como mulher e as respostas que venho encontrando é que era pra ser tudo muito simples, mas escolhemos complicar. Evoluir com

Novas necessidades - Novos recursos - Novos medos - Novas superações

Novas necessidades - Novos recursos - Novos medos - Novas superações  Começo a escrever sentada na espera de uma consulta do Renan com pneumologista . Complicações respiratórias de rotina eram grande receio que tinha comigo. Era como se não tê-las, significasse que tudo estivesse bem demais. A síndrome de Leigh na verdade já é muito clara para os pais que a conhecem. Ela diz: "Tudo pode piorar de um dia pro outro".  Esse tudo pode ser tudo mesmo: funções cardíacas, renais, pulmonares e todas as outras. Respirar sozinho para mim sempre foi um trunfo, como eu convencendo a mim mesma: "Olha só! Ele respira sozinho! Podemos fazer o que quisermos!". Uma crença que me fez bem, me fez agir e não ligar para as limitações de não andar, falar ou comer. Eis que no meio da pandemia, Renan teve uma complicação também nada desejada. Uma enorme escoliose se instalou. Um "s" na coluna. Mesmo com tantos cuidados e prevenções. Essa deformidade é temida justamente por