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Conto - Anestesia geral

Conto - Anestesia geral Trinta anos e parida há três meses. Madrugada interrompida por um provável infarto, tamanha dor que Giovana sentia no peito. Fincadas e falta de ar. Só podia ser o coração. Acho que vou morrer, vamos logo ao hospital . Sentia que não resistiria ao tempo gasto para arrumar as coisas do bebê e chegar ao destino. Luzes apagadas, ninguém na espera, tudo seria rápido. Mas não. Não pra aquela dor. Socorro! Socorro! A vontade era bradar , mas a dor e a vergonha só permitiam suplicar até certo tom que fosse suficiente para chamar atenção de médicos e enfermeiras que insistiam em não aparecer. Finalmente uma alma desgraçada apareceu mas o sonho de uma intravenosa com algo fluindo nas veias estava distante.  O anjo veio mas não tinha asas. O médico chegou irritado, certamente foi acordado por Giovana mas não teve coragem de reclamar. Chegou dizendo que tinham pacientes sendo acordados. Fodam-seeee! Giovana mal conseguia responder às perguntas idiotas, entre elas se ...

Quantos abusos você já sofreu?

Quantos abusos você já sofreu? Atenção! Contém spoiler! Essas duas tramas permaneceram por dias em minha mente pelo mesmo motivo: abordam o abuso das mulheres em suas diversas formas. Blonde Blonde retrata a conturbada vida de Marilyn Monroe . Não que seja biografia, mas tenta imaginar os bastidores. Vi também um documentário e pude constatar a tristeza: mais uma vida feminina cheia de abusos e falta de apoio. Embora muitas críticas digam que seja fantasioso demais, se assistido com sensibilidade percebe-se a essência. Pai desconhecido por toda a vida, mãe esquizofrênica que tentou matar a própria filha afogada na banheira aos sete anos. Deixada em orfanato, passou por diversos lares temporários. Esperou pelo pai até a morte. Buscava proteção e afeto em figuras masculinas. Sem referências do cuidar feminino, era perdida e insegura como esposa ou companheira.  Seus relacionamentos amorosos, digamos que naturalmente, foram difíceis. Agressões , ciúmes e por fim um caso com os Kenned...

Puro sexo! Cabelo!

Puro sexo! Cabelo! "O cabelo é a forma sexual mais exposta do corpo ! Cabelo é puro sexo! Sexualidade, identidade, movimento de transição , do seu lugar e desejo pela vida. Nem de longe é só estética a mudança de um corte. É uma das formas mais viscerais do corpo. Como é lindo e generoso da vida nos empurrar aos ciclos de renascimento. Dar lugar àquilo que já não cabia onde estava." Minha querida amiga e maravilhosa psicóloga Aline Pacheco me enviou um lindo áudio assim que publiquei vídeos com a mudança no visual e esse é um trecho de suas palavras. Foi uma tradução tão fiel ao que eu sentia naquele momento! Eu queria muito expressar o quanto estava realizada para as pessoas e ela generosamente fez isso por mim e tomo a liberdade de colocar aqui nesse texto. É tão profundo aquilo que faz mudar e as mudanças em si. O antes traz medos, incertezas, pesos, prestações de contas. O depois traz leveza, autoestima e poder .  O cabelo está como moldura na parte mais alta da ana...

Um dia, dois encontros inesperados

Um dia, dois encontros inesperados Nessa semana eu estive com uma mãe que já perdeu um filho com deficiência há algum tempo. Embora não tenhamos falado sobre o assunto, ela me fez lembrar desse dia da foto. Vou te contar uma intimidade: eventualmente, quando termino a troca de fralda do Renan e ele está sereno e tranquilo e sorri deitado em sua cama, sou tomada por uma onda de afeto e me debruço sobre seu corpinho magro, abraçando e deixando meu ouvido escutar seu coração. Nesse instante eu agradeço a Deus por sua vida e inevitavelmente penso se um dia aquele peito não mais terá um coração batendo . E me vejo na mesma posição, numa UTI , me despedindo. Mórbido né? Mas fazer o quê? É algo que faz parte das possibilidades das nossas vidas e entendo que lembrar disso de vez em quando seja até saudável. Pois bem, estive com aquela mãe que perdeu o filho, em seguida tive um momento desse com Renan e então me lembrei do dia da foto. Pegou? O primeiro encontro inesperado Dezembro de 2018, m...

Passando o rodo - É preciso evoluir

Passando o rodo - É preciso evoluir É preciso aprimorar aquilo que aprendemos com nossos pais . Nessa foto eu tinha dezenove anos e iria me casar. Acredite ou não, gastei poses no rolo do filme fotográfico para registrar minha primeira compra de supermercado para a nova casa. Cargas d'água meu primeiro rodo está presente. Instintivamente fiz essa compra, não só do rodo , mas tudo que sempre vi na casa dos meus pais. Nesse ano faço 22 anos de casada e não sei você, mas sempre odiei esse tipo de rodo.  Ele tem tudo que um rodo não deveria ter: é de madeira, portanto incompatível com água e apodrece nos encaixes. É encapado com um plástico vagabundo, (adivinhe? incompatível com água!) e acaba rasgando e deixando a mão livre para ferpas no cabo (de madeira). É relativamente pesado e pode ser que alguém até goste disso. Mas... no auge do meu ódio dele e da exigência que a pandemia trouxe de ficar por conta da limpeza da casa mais do que nunca, eu finalmente me rebelei. Ou posso dizer ...

Onze anos!

Onze anos! Foi nesses dias que você fez onze anos! Onze anos! A cada ano eu me surpreendo em termos cortado mais uma vez a faixa de chegada, juntos. Nossa jornada é uma linda maratona anual. A cada ano estamos melhores nisso.  Cada ano que passou foi de treinamento pro próximo. Treinamos forte, suamos, exaurimos, ganhamos fôlego e seguimos.  Aprendemos com a dor e com a vitória. Elas andam juntinhas.  Sua paciência só aumenta consigo. O crescimento está trazendo desafios pra você, mas desafio é seu sobrenome, filho. Você sabe muito bem a que veio. E você me desafia todo dia a te conhecer, como se fosse a primeira vez. E desde sempre você sorri para o sim. E até hoje você sorri quando te pergunto se me ama. Até hoje você sorri quando te pergunto se sabe que eu te amo. E sorri para passeios e chocolate. E sorri quando dou bronca no seu irmão canino, Álvin.  O meu presente sempre foi, é e sempre será a entrega da minha vida pra você. Desejo que você esteja aí dentro....

Ser servido

Ser servido Tirei essa foto numa quinta qualquer quando acordei mais cedo que o normal enquanto preparava o café da manhã . A vontade de registrar veio de uma sensação que me ocorre bem eventualmente nesses momentos em que providencio meu alimento . Sensação de ser alguém que espera lá dentro de casa, na sala vendo TV ou talvez ainda na cama com preguiça, mas seja onde for, escutando aqueles barulhinhos que vêm da cozinha como música. Louças batendo suavemente, chamas do fogão sendo acesas, ovos sendo quebrados, talheres separados e por fim os aromas vão preenchendo a casa e o coração de quem espera ficar pronto. Sinto mistura de saudade e desejo. Saudade de ser servida desse carinho e desejo de buscar isso de alguma forma. Tirando minha mãe, nunca tive alguém para me preparar as refeições e acredito que a maioria se identifique com isso.  Não importa como Acho que não faz muita diferença o tipo de comida , a qualidade com que era feita ou se era um momento perfeito, mas o f...

Eu não gosto, mas eu amo

Eu não gosto, mas eu amo Nessa semana ouvi uma mensagem do padre Emerson Anizi que reacendeu questões importantes pra mim. Reconhecer Jesus em qualquer situação, boa ou difícil. E dentro disso ele mencionou que gostar é diferente de amar . Não é porque não gosto, que não amo. Posso não gostar, mas amo .  É o tipo de reflexão que dá aquela mexida, faz aprumar os pensamentos, assim como uma bela sessão de terapia. E vale para tudo! Claro, Jesus e seus ensinamentos não podem ser menos do que onipotentes. Trabalho, familia, amigos, situações. Podemos sempre pensar: posso não gostar, mas amo. Lembre-se de onde veio. Eu disse no início que reacendeu porque realmente é uma linha de pensamento que tenho comigo, muito pela minha mãe que tem isso nato, principalmente sobre trabalho. Ela é um belo exemplo e me ensinou a amar trabalhar. Amar poder me sustentar. Amar ter saúde para poder trabalhar. Amar qualquer fonte de renda como benção, absolutamente qualquer que seja. Amar valorizar o...

Sessão de terapia 6

Sessão de terapia 6 Ontem foi dia de rever minha confidente maravilhosa, imparcial e atenta. Minha psicóloga . Adiei essa sessão por umas duas semanas se não me engano. Ando cansada demais para lembrar. Aliás, cansada foi a primeira palavra que saiu da minha boca. Disso eu lembro. Depois, ao longo da conversa foi traduzida melhor no idioma correto para estressada . E como em todo encontro nosso, faróis iluminaram muita coisa. Entender, admitir e me lembrar constantemente que estou estressada poderá aliviar vários momentos tensos ou angustiantes, além de indicar caminhos mais leves para as condutas da mente. Estresse ou cansaço Meu filho Renan está diferente e instável há dez meses. Um padrão que não existia nele se instalou nesse tempo seguido de choros, incômodos e possíveis dores ou crises epiléticas que estamos investigando. É tempo demais para manter a química do corpo em ordem. Cortisol certamente deve estar em larga escala por aqui. Tóxico. É nítida a exaustão mental e não f...

Imprevistos frequentes, rotinas doentes

Imprevistos frequentes, rotinas doentes Imprevisto que é previsto , deixa de ser. Imprevisto que acontece todo dia, deixa de ser. Quando tudo pode acontecer a qualquer momento, deixa de ser imprevisto . Quando se espera, deixa de ser. Quando você vigia o imprevisto acontecer, deixa de ser. E minha vida de mãe de uma criança com deficiência é assim. É contar com o imprevisto previsto, todos os dias. Não me lembro de uma semana completa de dias bons . Ou noites boas. Um ciclo vicioso vai se formando na forma de pensar. Mente reativa na posição on em tempo integral. Rotina básica na posição off. Ir cansando de tentar estabelecer o básico. Ir entregando os pontos e ficar por conta do imprevisto previsto. A expectativa será frustrada, certamente. Pessimismo? Não, não mesmo.  Entender que 2+2 são 4? Acho que é por aí. A terapia tem me ensinado a buscar estado de neutralidade. Dar alguns bons passos para trás e zerar programações mentais. Porque o óbvio é o óbvio. Não é fácil, pode a...