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Tristeza x felicidade

Tristeza x felicidade Estar triste é tão ruim. Conhecer a felicidade faz isso. Daquela tristeza profunda, paralisante. Quando já se sabe como sair dela e mesmo assim não consegue, vem a culpa. Acho que isso, a culpa, é o que mais acaba comigo em períodos tristes . Corrói .  Há sempre motivos para sentir alegria . Desde respirar e todo o resto.  Estar triste não é ingratidão . Aprendi isso. Viva a terapia . Mesmo assim, mesmo já aprendido, não consigo evitar. Só amenizar, às vezes. Talvez agora esteja com motivos mais profundos. Acho que é isso. Ter motivos para ser feliz não exclui a infelicidade. Não. E tudo bem. Não sou uma má cristã por estar infeliz. Viu cérebro? As lutas alheias também contribuem para essa culpa dita antes. O tal do olhar em volta e ver as dificuldades superadas dos outros que ainda sorriem. Isso pode ser benção ou destruição. Não se trata de ser feliz, mas de aprender a lidar com as tristezas. Posso estar triste ou ter motivos para isso e viver bem. ...

Conto - Sessão de cinema - Fuga

Conto - Sessão de cinema Era sexta-feira quando ela viu sobre a estreia do filme no cinema . Em segundos sentiu urgência em assisti-lo. Pensou tudo ao mesmo tempo: amava fazer isso, não o fazia há muito tempo, apaixonou por esse filme há dez anos no primeiro, era um filme longo de três horas (como gostava ainda mais).  Logo enviou mensagem pro marido no trabalho, dizendo que iria na próxima semana assistir. Olhou as melhores salas, horários e quis fugir das lotações de férias. Ficou realmente ansiosa. Ficou combinado. Mas aquele desejo visceral chamou sua atenção. Por que queria tanto isso? Tinha mesmo algo a mais. Tinha a ver com a semente plantada da tristeza que brotava. Ela por fim entendeu. Queria o refúgio do escuro e do isolamento por três horas. Era um presente que estava se dando. Escolheu uma sala VIP com belas poltronas reclináveis, comprou logo aquele combo astronômico de pipocas de todos os sabores e refrigerantes, mesmo sabendo que não daria conta. Conseguiu cheg...

Oi, morte

Oi, morte Ontem eu fugi. Vontade de viver só comigo. Conhecer a morte fez isso. Não precisa morrer pra conhecê-la.  Escolhi um café como companhia. Alguém passa falando alto e me irrito. Não se pode sofrer como quer? No fundo sei que nem chego perto da dor máxima. Deus não deixa. De vez em quando Ele abre uma janela e me chama pra debruçar nela. Aí sim, nesses momentos sinto uma partícula da grande tristeza e percebo Seu cuidado , de novo. Porque a lasca que a morte tira (da alma, do coração, do ser) é algo que incomoda o tempo todo, até mesmo quando esqueço dela. Plantou um vazio estranho e lágrimas sempre prontas a descerem pelas bochechas. Inclusive agora elas estão como orvalho, ainda nos cílios.  O kimono do luto me vestiu quando voltei pra casa e à minha rotina. Tudo ficou pesado . Um pesar que passou a fazer parte das minhas células. Até em momentos leves ou quase felizes, sinto um oco, um eco. Lembro dele sem lembrar. Esqueço dele sem esquecer. Eu era curiosa sob...

Conto - Um arroto inesperado

Conto - Um arroto inesperado Regina tinha vinte anos, já casada, falava dois idiomas fluentemente, muito estudiosa desde criança. Se é que alguém estudioso não o seja desde a infância. De familia simples mas onde nunca faltou nada e sobrou o esforço de labutas e suas recompensas. Trabalhava há um ano em uma grande empresa de telefonia que se instalou no Brasil para abrir as portas da tecnologia de celulares. Regina e seus futuros colegas de trabalho foram treinados intensamente antes da inauguração Instalações luxuosas para os padrões da cidade de interior, dentro do shopping. Uniformes impecáveis com meias finas e sapatos pretos fechados. Saias e coletes pretos, camisas brancas de mangas longas e até lenço no pescoço fechando o look quase de aeromoças. O negócio era um sucesso, com atendimento impecável que já corria fama. As atendentes ficavam em baias separadas por grossos vidros fumê e um carpete verde se estendia por todo o ambiente. Na recepção os clientes pegavam suas senhas e ...

Você se foi, mas ficou em tudo

Você se foi, mas ficou em tudo Você se foi, pai . E mais do que antes, te vejo em tudo. Já me fazia bem perceber de onde vim. Olhar pra mim e ver você. Agora mais ainda. Você está na importância do amor simples, silencioso. Sem dizer eu te amo . Porque o seu amor era assim. Amou ao me mostrar a beleza da natureza, nas pescarias, rios e cachoeiras. Amou ao me mostrar o cuidado com os animais, rindo de gargalhar dos bichinhos. E até chorando, emocionado só de vê-los brincando. Amou ao me dizer sem dizer. Amou ao ser reto, honesto, sincero e trabalhador. Amou ao dançar e darçarmos, sem vergonha. Amou ao respeitar o próximo. De tantas formas. Amou ao amar minha mãe, sua querida, sua filha. Era assim que se chamavam: filho e filha. Um amor raro, quando não há margem para romper. Amou quando me mostrou o esposo completamente dedicado que foi. Apaixonado. Mãos sempre dadas, ela era sua. Amou ao não fazer questão de nada, a não ser de ser generoso. Amou ao nunca reclam...

Conto - Anestesia geral

Conto - Anestesia geral Trinta anos e parida há três meses. Madrugada interrompida por um provável infarto, tamanha dor que Giovana sentia no peito. Fincadas e falta de ar. Só podia ser o coração. Acho que vou morrer, vamos logo ao hospital . Sentia que não resistiria ao tempo gasto para arrumar as coisas do bebê e chegar ao destino. Luzes apagadas, ninguém na espera, tudo seria rápido. Mas não. Não pra aquela dor. Socorro! Socorro! A vontade era bradar , mas a dor e a vergonha só permitiam suplicar até certo tom que fosse suficiente para chamar atenção de médicos e enfermeiras que insistiam em não aparecer. Finalmente uma alma desgraçada apareceu mas o sonho de uma intravenosa com algo fluindo nas veias estava distante.  O anjo veio mas não tinha asas. O médico chegou irritado, certamente foi acordado por Giovana mas não teve coragem de reclamar. Chegou dizendo que tinham pacientes sendo acordados. Fodam-seeee! Giovana mal conseguia responder às perguntas idiotas, entre elas se ...

Quantos abusos você já sofreu?

Quantos abusos você já sofreu? Atenção! Contém spoiler! Essas duas tramas permaneceram por dias em minha mente pelo mesmo motivo: abordam o abuso das mulheres em suas diversas formas. Blonde Blonde retrata a conturbada vida de Marilyn Monroe . Não que seja biografia, mas tenta imaginar os bastidores. Vi também um documentário e pude constatar a tristeza: mais uma vida feminina cheia de abusos e falta de apoio. Embora muitas críticas digam que seja fantasioso demais, se assistido com sensibilidade percebe-se a essência. Pai desconhecido por toda a vida, mãe esquizofrênica que tentou matar a própria filha afogada na banheira aos sete anos. Deixada em orfanato, passou por diversos lares temporários. Esperou pelo pai até a morte. Buscava proteção e afeto em figuras masculinas. Sem referências do cuidar feminino, era perdida e insegura como esposa ou companheira.  Seus relacionamentos amorosos, digamos que naturalmente, foram difíceis. Agressões , ciúmes e por fim um caso com os Kenned...

Puro sexo! Cabelo!

Puro sexo! Cabelo! "O cabelo é a forma sexual mais exposta do corpo ! Cabelo é puro sexo! Sexualidade, identidade, movimento de transição , do seu lugar e desejo pela vida. Nem de longe é só estética a mudança de um corte. É uma das formas mais viscerais do corpo. Como é lindo e generoso da vida nos empurrar aos ciclos de renascimento. Dar lugar àquilo que já não cabia onde estava." Minha querida amiga e maravilhosa psicóloga Aline Pacheco me enviou um lindo áudio assim que publiquei vídeos com a mudança no visual e esse é um trecho de suas palavras. Foi uma tradução tão fiel ao que eu sentia naquele momento! Eu queria muito expressar o quanto estava realizada para as pessoas e ela generosamente fez isso por mim e tomo a liberdade de colocar aqui nesse texto. É tão profundo aquilo que faz mudar e as mudanças em si. O antes traz medos, incertezas, pesos, prestações de contas. O depois traz leveza, autoestima e poder .  O cabelo está como moldura na parte mais alta da ana...

Um dia, dois encontros inesperados

Um dia, dois encontros inesperados Nessa semana eu estive com uma mãe que já perdeu um filho com deficiência há algum tempo. Embora não tenhamos falado sobre o assunto, ela me fez lembrar desse dia da foto. Vou te contar uma intimidade: eventualmente, quando termino a troca de fralda do Renan e ele está sereno e tranquilo e sorri deitado em sua cama, sou tomada por uma onda de afeto e me debruço sobre seu corpinho magro, abraçando e deixando meu ouvido escutar seu coração. Nesse instante eu agradeço a Deus por sua vida e inevitavelmente penso se um dia aquele peito não mais terá um coração batendo . E me vejo na mesma posição, numa UTI , me despedindo. Mórbido né? Mas fazer o quê? É algo que faz parte das possibilidades das nossas vidas e entendo que lembrar disso de vez em quando seja até saudável. Pois bem, estive com aquela mãe que perdeu o filho, em seguida tive um momento desse com Renan e então me lembrei do dia da foto. Pegou? O primeiro encontro inesperado Dezembro de 2018, m...

Passando o rodo - É preciso evoluir

Passando o rodo - É preciso evoluir É preciso aprimorar aquilo que aprendemos com nossos pais . Nessa foto eu tinha dezenove anos e iria me casar. Acredite ou não, gastei poses no rolo do filme fotográfico para registrar minha primeira compra de supermercado para a nova casa. Cargas d'água meu primeiro rodo está presente. Instintivamente fiz essa compra, não só do rodo , mas tudo que sempre vi na casa dos meus pais. Nesse ano faço 22 anos de casada e não sei você, mas sempre odiei esse tipo de rodo.  Ele tem tudo que um rodo não deveria ter: é de madeira, portanto incompatível com água e apodrece nos encaixes. É encapado com um plástico vagabundo, (adivinhe? incompatível com água!) e acaba rasgando e deixando a mão livre para ferpas no cabo (de madeira). É relativamente pesado e pode ser que alguém até goste disso. Mas... no auge do meu ódio dele e da exigência que a pandemia trouxe de ficar por conta da limpeza da casa mais do que nunca, eu finalmente me rebelei. Ou posso dizer ...